Por: Sofia Lebres
Na semana passada, pensámos, convosco, sobre o modo como o ano novo nos convida a refletir sobre o curso da nossa vida e a questionar, seriamente, se ela tem, ou não, a nossa cara, gerando desconforto, sempre que nos sentimos a caminhar na direção oposta à que a nossa bússola interna indica.
Vivemos, agora, a segunda semana do ano e, enquanto alguns de nós se veem motivados a atingir as suas metas de ano novo, outros, poderão já ter desistido das suas. Às vezes, sob o pretexto da inimiga procrastinação, que será o ato de adiar a execução de tarefas importantes para nós, mesmo que simples e “pequenas”. Porventura, importantes, porque prioritárias, na medida em que a realidade se impõe, e não tanto porque congruentes com os nossos desejos.
Frequentemente, a procrastinação é confundida com uma “preguicite aguda”, de alguém desorganizado ou “descontraído” demais, que, muitas vezes, empurra as pessoas para um ciclo de frustração e ansiedade que se acumulam. Mas, afinal, por que é que fazemos isto a nós próprios, colocando-nos em situações que podem ser tão prejudiciais para nós, como adiar estudar para um exame importante, entregar aquele projeto, ou sentir que somos fracos, porque incapazes de fazer aquilo a que nos propusemos?
A verdade é que, muitas vezes, procrastinamos para evitar sentir as emoções que uma determinada tarefa desperta, em nós, por exemplo, quando a sentimos como muito difícil, complexa ou longa e questionamos se teremos as competências para a realizar. Como se tivéssemos medo de perceber que não somos assim tão bons e que falhámos. Nestas situações, geralmente muito ansiógenas, o nosso corpo pode, então, tentar desligar-se da dor e do desconforto, arrastando-nos para um certo estado de congelamento (quando, por hipótese, vamos para o sofá, fazer scroll nas redes sociais) e/ou distração (como quando, de repente, achamos que a casa está mesmo a precisar de ser limpa, antes de nos sentarmos a escrever aquele trabalho). Sendo que, por vezes, é mais fácil conviver com a dúvida, que nos deixa a imaginar que, talvez, as coisas pudessem ter corrido melhor, se nos tivéssemos esforçado mais ou organizado melhor, do que entregarmos os nossos tempo e energia, a algo que, apesar de importante para nós, acaba por correr mal.
Por isso é que é tão importante estabelecer objetivos que estejam alinhados com o que, realmente, sentimos e queremos, com a consciência de que, mesmo nessas circunstâncias, vão existir obstáculos que nos vão dar vontade de desistir e que, nesses momentos, é essencial parar para perceber quais as emoções que se escondem por detrás do desejo inicial de deitar a toalha ao chão, para que as possamos nomear e, assim, tornar menos assustadoras.
Comments