Por Rita Sousa e Joana Santos
Queridos pais e mães
O regresso à escola/creche é um momento especial, cheio de expectativas, novas experiências e desafios para as crianças. É igualmente, um momento desejado por muitos pais/mães e vivenciado por outros com alguma ansiedade, medo e angústia.
Hoje convido-vos a refletir um pouco sobre estes sentimentos, pensamentos e sensações, pois não estão sozinhos nesta jornada…
Todos os nossos sentimentos são válidos, importantes e comunicam algo sobre nós e sobre as nossas necessidades, devendo ser escutados com carinho, atenção, acolhimento e compreensão.
Enquanto pais/mães sugiro que neste ciclo (que para uns será vivenciado pela primeira vez e para outros não), se lembrem do seguinte:
Pratiquem um pouco de autocompaixão com vocês mesmos, lembrando-se sempre que estão a fazer o melhor que sabem todos os dias;
Validem as vossas necessidades, quer sejam de tempo, espaço ou silêncio, afinal, vocês são importantes para os vossos filhos;
Escrevam numa folha o que poderão fazer de prazeroso no tempo em que estão sozinhos;
Permitam-se refletir no autocuidado e na importância de estarmos bem connosco para sermos bons pais;
Lembrem-se que somos seres de relações e que os vossos filhos estão a criar recursos e mecanismos para também eles serem bem-sucedidos nesta tão significativa tarefa da nossa vida e que TANTO contribui para o sentimento de felicidade.
Permitam-se chorar, sorrir, sentir-se aliviados, sentir-se assustados, afinal as emoções fazem parte do caminho e estão sempre connosco;
Participem ativamente e sempre que possível na vida escolar dos vossos filhos, isso vai trazer conforto e segurança.
Gostaria ainda de vos recordar que a maior parte de nós cresceu em comunidade e que hoje os pais criam os filhos maioritariamente sozinhos e que não é de todo fácil, sobretudo porque em grande maioria, temos mães e pais trabalhadores, portanto, sentimos juntos.
Acrescentar apenas o seguinte:
SABIAM QUE A ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO NÃO É EXCLUSIVA DA CRIANÇA?
Pois é, esta também pode ocorrer em adultos, embora de forma menos comum e com características ligeiramente diferentes. No contexto adulto, a ansiedade de separação pode manifestar-se como um medo intenso e irracional de se separar de pessoas próximas, como parceiros, familiares ou amigos, afetando significativamente a vida diária e as relações interpessoais. Esta é uma perturbação do foro das perturbações de ansiedade, caracterizada por um medo excessivo da separação das figuras de apego, podendo levar a comportamentos de evitamento, preocupação constante e até mesmo sintomas físicos quando a separação é iminente ou imaginada.
Se por acaso, este momento de despedida envolve um significativo sofrimento, se notam que dentro de vocês mora uma ansiedade de separação, então vale a pena falarmos e refletirmos sobre isso a dois. Procurem ajuda, pois muitas vezes carregamos dentro de nós memórias traumáticas, nomeadamente de abandono/perda/separações, rejeições (de figuras de referência na nossa infância), que contribuíram para a criação de vínculos inseguros, que precisam ser curados, atualizados, vistos e compreendidos. Sabemos que poderão disparar nestas alturas e acarretar dor e sofrimento significativos, sendo uma das consequências, uma possível limitação do crescimento saudável dos nossos filhos, podendo, ate ser transmitidos inconscientemente, transgeracionalmente.
Lembrem-se: não estamos a abandonar ou rejeitar os nossos filhos e não estamos a abdicar de tempo com eles, estamos sim, a permitir-lhes desenvolver outros laços e vínculos tão importantes e saudáveis para o seu crescimento e desenvolvimento enquanto seres humano, sociais e relacionais. Estamos a permitir que experienciem a importância de viver em grupo, de reconhecer rotinas e regras que são fundamentais e orientadoras para um desenvolvimento seguro e feliz.
Uma palavra de compreensão caso sejas um dos pais/mães que experimenta dor nestes momentos e estas palavras servem para te dizer que estamos aqui enquanto equipa para cuidar potencialmente de uma criança que também vive dentro de ti.
“É mais fácil ensinar do que educar
Para ensinar só precisas saber.
Para educar, precisas SER”
- Anónimo
Adaptação Escolar com Respeito pela Criança
A adaptação escolar marca um momento significativo no desenvolvimento de cada criança. É um momento de transição, onde o bebé/criança começa a criar novos vínculos e a conhecer novas figuras de referência fora do ambiente e do contexto familiar. Este processo, apesar de “normal”, não deve ser encarado como uma imposição que é feita à criança, mas sim como uma transferência de vínculos realizada de forma gradual e respeitosa.
Idealmente, esta adaptação deverá dar-se com a presença das principais figuras de referência da criança, como os pais ou cuidadores. Todas as crianças, independentemente da sua idade, precisam de se sentir seguras. Precisam de sentir confiança e acolhidas neste novo ambiente. E quem melhor para lhes transmitir esta segurança do que as suas figuras de vinculação principais durante o período de adaptação? Quem melhor para fazer esta ponte?
No entanto, sabemos que muitas instituições de ensino, como creches, infantários e escolas, muitas vezes não nos permitem esta abordagem, o que pode tornar esta fase ainda mais desafiante para todos.
Apesar de, numa perspetiva legal, isto ser uma “falácia”, uma vez que o interesse superior da criança prevalece sobre qualquer regulamento e não há nada na lei que impede os pais de entrarem na escola pública, vamos trabalhar no sentido de ajudar também as instituições neste processo de forma a que seja mais fácil para todos os envolvidos. Não se trata de ceder, mas sim de encontrar um equilíbrio. É importante entendermos que, mesmo assim, existem contextos mais rígidos e inflexíveis, onde a colaboração é essencial. E é indiscutível que as escolas são essenciais. Neste sentido, vamos deixar-vos aqui algumas sugestões benéficas para todos, que vos dêem colo e vos ajudem a lidar com esta fase mais desafiadora da vida do vosso filhote.
Uma adaptação à creche/escola feita com respeito, independentemente da idade do bebé/criança, é aquela que respeita todas as suas necessidades, sejam elas emocionais ou fisiológicas. Ora, isto significa que as instituições devem estar preparadas para lidar com desregulações emocionais, respeitar as rotinas de alimentação e sono, e apoiar processos como o desfralde de cada criança. Mais do que simplesmente atender às regras e horários da instituição, é fundamental que se respeite a individualidade de cada criança, adaptando-se às suas necessidades específicas.
Como ajudar, então, neste processo de transição e adaptação?
A adaptação deve ser gradual, respeitando o ritmo da criança. É importante estar preparado para avanços e recuos, uma vez que a adaptação não é um processo linear.
Procure fazer a transição entre as rotinas da alimentação e do sono da criança de forma suave e gradual, respeitando os seus horários e necessidades.
Mantenha uma comunicação aberta e constante com a creche ou escola, partilhando informações importantes sobre a criança e recebendo feedback do seu progresso e bem-estar.
Explique à criança, de forma adequada à sua idade, o que vai acontecer durante o dia. Antecipar os eventos e rotinas do dia ajuda a criança a sentir-se mais segura e menos ansiosa.
Nunca permita que o choro da criança escale a um ponto de desespero. Despedidas devem ser rápidas e confiantes, transmitindo segurança e calma para evitar traumas.
Confie na equipa educativa que irá receber o seu filhote. Acreditar que eles também serão capazes de ajudar a regular as emoções da criança é essencial para um processo de adaptação bem-sucedido.
Crie rituais de despedida consistentes que ajudem a criança a entender que os pais ou cuidadores irão embora, mas que voltarão mais tarde. Deixamos aqui algumas sugestões:
Abraço que carrega: Um abraço que promete que uma parte dele ficará sempre connosco e uma parte nossa com ele. Durante o dia estaremos juntos em pensamento!
Símbolos de amor: Uma pulseira, uma “tatuagem”, desenhar um coração, um amuleto. Sempre que precisarmos ao longo do dia olhamos para lá e mandamos miminhos e amor por pensamento.
Fio invisível: Temos um fio que nos liga às pessoas que amamos e já existia na barriga da mamã. Os papás podem tocar no umbigo da criança quando se estão a despedir e lembrá-la disso.
As despedidas podem ser difíceis, mas não têm que ser traumáticas! Durante algum tempo, as despedidas podem ser mais desafiadoras e até complicadas, é a forma que a criança tem de manifestar o desagrado de não poder estar em permanência com a figura de vinculação principal. Completamente natural. Quando a criança aceitar a co-regulação da outra figura e acalmar junto dela após a despedida, está tudo bem!
A adaptação escolar é um processo delicado, mas que, quando feito com respeito e cuidado, pode ser uma experiência positiva e enriquecedora para a criança e para toda a família. Respeitar as necessidades individuais da criança e assegurar que ela se sinta segura e apoiada em cada passo do caminho é fundamental para o seu bem-estar emocional e para o seu sucesso escolar a longo prazo.
E quando temos em conta as emoções de todos, este periodo é mais fácil para pais e filhos.
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