Birras: Manipulação ou uma necessidade de regulação emocional?
- Filipa
- 20 de mar.
- 2 min de leitura

Por Joana Santos
As birras fazem parte do desenvolvimento infantil e são comuns entre os 18 meses e os 3 anos, podendo estender-se até aos 6 anos devido à imaturidade cerebral típica desta fase. O motivo principal? O córtex pré-frontal, responsável pela regulação das emoções e comportamentos, ainda está em desenvolvimento e só atinge maior maturidade por volta dos 7 anos. Ou seja, a criança simplesmente não tem capacidade para gerir emoções intensas sozinha.
E então, o que fazer quando surge uma birra? O mais importante é lembrarmo-nos que a criança precisa de conexão e acolhimento, e não de frases que invalidam as emoções, como "não chores" ou "isso já passou". O que a criança sente é real e precisa de ser reconhecido como parte da experiência humana. Podemos dizer algo como: "A mamã/papá também se sente assim às vezes", ajudando a normalizar a emoção.
Aqui entram os 3 A's para lidar com as birras:
● Acolher: Dar colo, mimo e criar um espaço seguro para que a criança se acalme.
● Apoiar: Nomear e validar os sentimentos da criança, mostrando compreensão.
● Ajudar a regular: Ensiná-la, de forma progressiva, a lidar com essas emoções.
E aqui surge uma questão essencial: acolher é o mesmo que ceder?
Não. Regular uma emoção não significa dar tudo o que a criança quer. Um "não" pode (e deve) ser dito, mas com empatia. É possível reconhecer a frustração da criança sem abrir mão dos limites necessários.
Por exemplo, imaginem que o vosso filho está a chorar porque queria um gelado antes do jantar. Em vez de dizer "Já disse que não!" com firmeza e afastar-se, podemos tentar: "Eu sei que estás triste porque querias muito o gelado. Mas agora é hora do jantar. Podemos combinar um gelado amanhã?". Assim, reconhecemos o sentimento sem ceder ao desejo.
Como adultos, somos o modelo de regulação para as crianças. Se respondemos à birra com gritos ou impaciência, ensinamos que é assim que se lida com a frustração. Se, pelo contrário, conseguimos manter a calma e guiar a criança nesse processo, ajudamo-la a construir ferramentas para gerir as emoções de forma mais saudável no futuro. Ao ajudarmos a criança a regular as suas emoções hoje, estamos a dar-lhe ferramentas que a acompanharão na vida adulta. Um adulto que aprendeu a lidar com a frustração na infância será mais resiliente no futuro.
E se sentir que está prestes a perder a paciência? Respire fundo, afaste-se por uns instantes se for necessário, e depois volte para a criança com mais serenidade. Nem sempre vamos conseguir responder às birras com calma, e está tudo bem! O importante não é a perfeição, mas a intenção e o esforço contínuo para oferecer um ambiente seguro e regulador. Se regular uma birra parece difícil, lembre-se de que a sua própria história pode influenciar a forma como lida com estas situações. Não se culpe – procure apoio e ferramentas para que o processo seja mais leve para si também.
No fim, a grande resposta é: birras não são manipulação, são uma manifestação natural da desregulação emocional. E a forma como lidamos com elas define a maneira como as crianças aprenderão a lidar com as suas emoções no futuro.

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