A raiva.Na tentativa de a silenciar (sempre silenciar) repetimos continuamente “respira fundo”. Porque se assume, a mim me parece, que é de tal forma difícil lidar com a zanga e com o que se sente, que mesmo dizendo que é importante aceitar, fugimos do que sentimos. Do não iminente. Do grito que se prende.Confundimos agressividade com violência. Os limites com antipatia. As respostas tortas com desrespeito. Como se não existisse um espaço entre dois extremos que não são razoáveis.Consequentemente, não damos aos limites a importância que deveriam de ter. Evitamos o “não” com demasiados “sins”. Somos contra a revolta saudável que todos sentimos. E na tentativa de fugir da resposta ao outro, fugimos, ecoando, claro: “aceita o que sentes”. Sem nunca parar para pensar, no quão contraditório é tudo isto…Na verdade, para aceitarmos, temos de saber viver com. E todas as tentativas de se aliviar o que se sente, sem dar importância ao porquê de se sentir e sem a sua legenda e significado, deixam muito a desejar. E aniquila-se o propósito do sentir, mas escrevendo que só é feliz quem aceita. O que mais parece as letras gordas do jornal ou dos sites de notícias, que frequentemente levam ao engano de quem não lê e se contenta com o que fica por ler.Proponho então que se aceite (mas verdadeiramente). Que não tenhamos receio de sermos sensíveis. De responder, mesmo quando não podemos ser tão simpáticos como o outro gostaria. De impor limites e de dizer que não. Que respiremos fundo, por cada “respirar fundo” que ouvimos quando estamos chateados e invadem os nossos limites uma e outra vez. E a seguir, os mandemos à merda.
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