top of page

Estamos a perder terreno para a adolescência

  • Foto do escritor: Filipa
    Filipa
  • 27 de mar.
  • 2 min de leitura



Por Márcia Arnaud



Desde sempre que ouvimos frases como “as próximas gerações preocupam-me” ou “estas novas gerações vão de mal a pior”. A verdade é que, as gerações atuais acham sempre que as próximas são piores. Vemos o mundo a mudar e as gerações futuras não têm outra opção senão acompanhar essa evolução. Contudo, as mudanças que vivemos hoje em dia parecem ter um potencial maior para alterar de forma significativa o desenvolvimento do indivíduo. 


Crescer já não é como era. Não que isso seja necessariamente mau, mas é definitivamente diferente. Aquilo que tem vindo a ser salientado pelos profissionais que estudam a criança é que parece que uma das etapas do desenvolvimento está a encurtar: a latência. Aquilo que tem sido estudado como benéfico para o desenvolvimento, é haver uma espécie de calmia quando a criança entra na escolaridade. O que temos observado é que a segunda infância e a pré-adolescência parecem estar a perder terreno para a adolescência. 


As crianças da latência deveriam estar a aprender a controlar os seus impulsos, a direcioná-los para a cultura e aprender a ocupar-se. Focadas nas aprendizagens do mundo, nesta idade, seria suposto saírem de si próprias e começarem a direcionar-se para fora, para a sociedade. Contudo, não parece que seja isso que está a acontecer. 


Vemos agora as nossas crianças, e não só os adolescentes, focadas no exibicionismo, presas num mundo da sedução e do consumismo. Parecem mais preocupadas do que nunca sobre aquilo que o outro pensa, sem na verdade se interessarem sobre o outro. Parecem tão focadas em si e nas suas necessidades, que ficam demasiado frustradas perante a existência de um outro diferente de si. Parecem eternamente insatisfeitas, como se nada preenchesse o buraco dentro de si. Querem muito ser compreendidas, mas mais focadas em adquirir a linguagem do adulto do que a linguagem simbólica da criança. Ao invés da calmia interna, vivem uma precoce sexualização e sobrexcitação. 


Não só o que se passa dentro das nossas crianças, mas também o que se passa fora. Os limites parecem cada vez mais inexistentes. Não falo da educação da ditadura, mas nos limites que são sinónimo de segurança. As nossas crianças parecem ver os pais de tal forma como amigos que os pais, presos nesse desejo (legítimo) de serem gostados, ficam angustiados com as suas zangas e tristezas. Mais, as próprias barreiras do tempo e do espaço parecem estar de tal forma difusas, que a separação e a espera tornam-se conceitos quase transparentes no seu dia-a-dia, ainda que mais aterradores do que nunca. 


Tudo parece demais para aquilo que conseguem elas lidar. Ficam sobrecarregadas de estímulos, de sensações; ficam demasiado excitadas sem saber o que fazer com essa excitação. Numa mente ainda imatura, as nossas crianças encontram-se confrontadas com algo que não sabem lidar. E o que faz um corpo quando não sabe lidar com o que a mente vive? Extravaza. Liberta. Usa o movimento e a ação para regular os processos mentais.



 
 
 

Comments


Design%20sem%20nome%20(33)_edited.png
bottom of page